Difícil, se não quase surreal, tornar prática a tese da transferência automática de votos em eleições. O caso mais recente e explícito vem da cidade de Caruaru, maior colégio eleitoral do Interior de Pernambuco. O retrato dessa incontestável realidade se espelha no candidato do PSB a prefeito, Marcelo Gomes. Além de ser do partido oficial do poder, que controla o Estado e a Prefeitura do Recife, Marcelo é filho de políticos historicamente arraesistas, eduardistas e socialistas, o casal Jorge e Laura Gomes.
O pai foi vice-governador do mito Miguel Arraes, a mãe deputada estadual e secretária de Eduardo Campos. Marcelo é vereador e desistiu da reeleição para atender a uma convocação dos líderes dos dois principais grupos políticos de oposição à prefeita Raquel Lyra (PSDB), candidata à reeleição. Mas patina nas pesquisas, abaixo da margem de erro de 4,4 pontos percentuais para mais ou para menos.
Segundo a primeira pesquisa do Instituto Opinião, em parceria com este blog, divulgada ontem, Marcelo pontua apenas 2%. Cadê os votos fiéis de Zé Queiroz e Tony Gel? Não se trata de um apoio qualquer. Ambos foram prefeitos. Tony, duas vezes. Queiroz, quatro. Com aprovação popular, vale a ressalva enfática.
Só dá para inferir, portanto, que Raquel roubou ou sequestrou os eleitores de Queiroz e Tony. Ou então esses eleitores têm uma baixa taxa de fidelidade. São como folha seca, levada para onde o vento sopra. Nem uma coisa nem outra. Política não é uma ciência exata e ninguém tem o poder de soprar voto na direção que melhor convier.
Já se passou o tempo em que voto era tangido para a urna feito boi para o curral. Fui criado no interior vendo minha mãe, católica fervorosa, em procissões, seguindo imagens de santos carregadas em andores: um tablado de madeira com duas barras longas e paralelas uma de cada lado, que servem para apoiar o tablado sobre os ombros dos que carregam as imagens.
Isso era feito e ainda é com cuidado e calma, senão o santo pode escorregar, cair e quebrar, pois é feito de barro (louça ou cerâmica). Daí ter surgido a expressão "Devagar com o andor, que o santo é de barro", para contextualizar candidatos fracos. No caso de Caruaru, não é apenas o andor Marcelo que é moldado com o barro usado por Vitalino. Os santos Queiroz e Tony também são de barro.
Por Sérgio Ramos /Radialista e Blogueiro-24/10/2020
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