Cinema: Documentário de Deby Brennand desvenda o homem por trás de Frei Damião


Da Redação/Com Diário de Pernambuco:
Frei Damião e cineasta Deby Brennand. Foto: Machado Bitencourt/Reprodução e Tarciso Augusto/Divulgação

A cineasta pernambucana Deby Brennand gosta de trabalhar com personagens “da terra, humildes, humanos e profundos”. Justamente por isso foi convidada pelo produtor Pablo Lopes, da conterrânea Fábrica Estúdios, para dirigir um documentário sobre uma das figuras religiosa mais fascinante do imaginário nacional: Frei Damião - O santo do Nordeste, com roteiro de Nadezhda Bezerra. A estreia será na próxima segunda-feira, a partir das 20h, abrindo a programação da 29ª edição do Cine PE - fora da mostra competitiva, pois a curadoria elegeu a obra como “hors concours”. A grade de filmes segue até 4 de agosto.



Deby já é conhecida do festival. O seu primeiro longa-metragem, Danado de bom (documentário sobre o compositor pernambucano João Silva, parceiro de Luiz Gonzaga) levou quatro Calungas em 2016. Já que o novo lançamento aposta em uma figura mais famosa, o desafio é revelar toda sua trajetória de vida fugindo do senso comum. Para isso, incluiu até mesmo uma viagem à Itália, onde Pio Gianotti (nome de batismo do personagem) nasceu e passou a adolescência. Entre as diversas curiosidades sobre a biografia está uma participação na Primeira Guerra Mundial.

A vinda ao Brasil ocorre em 1930, com o objetivo de catequizar a região mais economicamente desfavorecida do país. Ele ficou conhecido por rodar as mais variadas cidades do Nordeste espalhando fé através de sua devoção e sensibilidade. Ao resgatar a trajetória de um ícone religioso, a obra poderia optar por reforçar um certo “teor canônico” ou desvelar pontos de vista não tão conhecidos. O santo do Nordeste opta pela segunda opção. 

Foto: Machado Bittecourt/Divulgação
"O que faz um homem ser santo? Ele nasce assim ou existe um processo de vida?", diz a diretora, em entrevista durante visita ao Diario. "Mostramos um Frei Damião como uma criança, homem e depois santo. Durante esse processo, é impressionante toda a força e mística envolvida. Ele se doava ao povo, escutava as pessoas sem confessionário, como um terapeuta".

O filme conta com entrevistas com alguns descendentes italianos, amigos, além de párocos e franciscanos que conviveram com o católico. O ineditismo é reforçado com imagens raras, obtidas de um acervo do Frei Fernando (falecido em 2013), amigo que costumava filmar - e até dirigir, brinca Deby - o personagem principal. Também agrega gravações de Otacílio Cartaxo e Machado Bittencourt, que tentaram fazer um filme sobre o personagem entre as décadas de 1950 e 1960, mas sucesso. "Essas filmagens chegarem até nós por acaso, em películas. E era exatamente sobre um período de sua vida que ainda não tínhamos imagens".

O santo do Nordeste não é documentário tradicional, de viés jornalístico/televisivo. O filme conta com três linhas narrativas: uma documental (com entrevistas e arquivos), uma ficcional (que reconstrói acontecimentos com auxílio dos atores Andrade Júnior, Carlos Eduardo e Nicolas Baldini) e uma terceira revelada "apenas revelada na estreia".

“Eu quis brincar com nuances diferentes e planos interessantes, imagens plásticas e projeções da natureza. Hoje em dia existem várias possibilidades e linhas narrativas documentais”, adianta. Apesar de considerar documentários mais dinâmicos, vivos e próximos das pessoas, a diretora já demonstrou vontade de comandar sua primeira ficção. Inclusive mantém alguns roteiros guardados, mas considera “difícil demais fazer cinema no Brasil”. “Desde o processo de captação de recursos até a finalização, demora tantos anos que eu não sei se eu serei a mesma pessoa, com as mesmas ideias, quando chegar o momento do lançamento”.

Frei Damião - O santo do Nordeste será distribuído no circuito comercial pela Elo Company em 26 salas de cinema do país, mas ainda sem datas definidas. A equipe envolvida tem vontade de que o filme chegue em regiões interioranas, onde a presença do personagem é ainda mais presente - e irrefutável.


Por Sérgio Ramos/Radialista e Blogueiro- 27/07/2019

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