A Revista de
História da Biblioteca Nacional publica dossiê especial sobre o avanço dos
evangélicos no Brasil, que esclarece como a religião chegou ao Brasil e os
caminhos que percorreu para alcançar a abrangência que tem hoje. Artigo do
sociólogo Ricardo Mariano, da PUC-RS, analisa o surgimento de uma bancada
evangélica no Congresso Nacional. Segundo ele, os políticos pentecostais
dependem fortemente do apoio eleitoral de pastores:
“Essa dependência reforça o caráter corporativista e moralista de seus mandatos e seu compromisso de atuarem como despachantes de igreja”.
O dossiê traz ainda reportagem de Alice Melo que mostra como os evangélicos vêm se firmando na produção cultural brasileira. Um exemplo é o mercado gospel, que movimenta cerca de R$12 bilhões por ano. E ressalta, em artigo do historiador e antropólogo Marcos Alvito, da Universidade Federal Fluminense, que a corrente pentecostal é uma das grandes responsáveis pelo crescimento exponencial dos evangélicos no país.
No ritmo
de Jesus
Segundo artigo de
Alice Melo, diante da multidão, sob os holofotes coloridos, ela canta, pula e
dança no ritmo do calipso paraense – gênero conhecido em alguns estados do Brasil
como brega. Ao contrário do que acontece no espetáculo que ficou famoso na voz
de Joelma e nos acordes estridentes da guitarra de Chimbinha, a performance de
Mylla Karvalho dispensa o excesso de purpurinas e lantejoulas, shorts curtos e
tops que mostram a barriga. Em suas apresentações atuais, a hoje pastora de uma
igreja neopentecostal em Palmas (TO) canta apenas músicas de adoração ao
Senhor. Nem sempre foi assim: antes de encontrar Jesus, ela fazia parte da
banda secular Companhia do Calypso, sucesso no circuito de entretenimento do
Norte. Em 2007, após a decisão de se converter ao Evangelho, tornou-se a
primeira pessoa a adaptar a batida regional à música gospel, e rapidamente
conquistou uma legião de fãs.
“Deus habita em
meio a louvores. As pessoas podem até não gostar de religião, mas quem não
gosta de música ou mensagens de amor?”, comenta a loura, que em 2013 vai lançar
um DVD com seus mais recentes hits, como “Se joga, minha vida” e “Eu acredito
em Deus”. Segundo ela, a maior estrela de seus shows é Cristo, e por isso se
apresenta de forma mais comedida, sem o remelexo sensual característico de suas
antigas aparições nos palcos. “Através da nossa música, muita gente tem sido
liberta. Sempre ouço testemunhos de pessoas que achavam gospel careta, que não
sabiam que tinham esses ritmos e que, por meio dos encontros, se sentiram
tocadas e foram levadas para a igreja. A Bíblia diz que os ritmos são de Deus,
o diabo é quem copia, que transforma, perverte”. Afinal, “na casa do Senhor não
existe Satanás”, como alertava o famoso bordão baiano.
A ideia passada
por Mylla Karvalho está cada vez mais presente no discurso de uma nova geração
de evangélicos que vem se adaptando às necessidades específicas de algumas
localidades e contribui para que dogmas, antes rigorosos, sejam modificados.
Nesta esteira de transformação e assimilação cultural, bailes funk, rodas de
samba e pagodes de Jesus começam a pipocar e a atrair multidões no Sudeste;
festas de forró animam arrasta-pés de Cristo no Nordeste; e canções sertanejas
em ode ao Senhor, tocadas no Centro-Oeste, se tornam cada vez mais comuns,
principalmente em zonas pobres das cidades. Sucesso que dá lucro: o mercado
gospel movimenta cerca de R$ 12 bilhões por ano, sendo 10% apenas com a
indústria musical.
Para conhecer o
discurso, o impacto cultural e religioso, e as estratégias utilizadas pelas
igrejas evangélicas no Brasil e no mundo, leia o dossiê “Evangélicos, a fé que
seduz o Brasil“, capa da Revista de História do mês de Dezembro.
Fonte: ADIBERJ
Postado por Sérgio Ramos/Repórter
– 05/12/2012
Contato: felizsramosdecarvalho@yahoo.com.br
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