BISPO ADMITE SUICÍDIO
O constrangimento de D. Francisco era visível ao longo do dia.
A família curvou-se às evidências e mesmo sem o parecer definitivo da Polícia, admitiu o que toda a população do Agreste de Pernambuco acha que aconteceu: o auto assassinato do padre Geraldo de Oliveira, anteontem, na igreja de São Sebastião, em Surubim, PE. A fala do bispo Dom Francisco na missa exequial ( de expiação) celebrada hoje à tarde na igreja onde aconteceu a tragédia, não mencionou suicídio. Mas todo o sentido das palavras ditas com insegurança, conduziam a essa constatação. A polícia também não trabalha com outra hipótese. Entretanto, as dúvidas em torno do caso não apenas permanecem. Aumentam a cada instante.
PADRES ACUSADOS FOGEM
Os padres Severino e Amaro, da paróquia de São Sebastião, em Surubim, foram duramente acusados pelo padre Geraldo de Oliveira em sua carta-testamento como responsáveis pela situação insustentável em que se encontrava. As humilhações e agressões sofridas por ele foram o provável motivo de sua morte. Após a divulgação do teor da carta, ambos sumiram do município. Onde estão? Fugiram? Estão sendo escondidos pela diocese? Essa fuga é mais um mistério que cerca uma morte inusitada, aparentemente fácil de decifrar porém cercada de dúvidas por todos os lados. Os indícios levam à conclusão que a polícia elegeu como única hipótese a investigar: suicídio.
Pessoas que acompanharam a perícia e o levantamento do corpo comentaram que o padre, encontrado entre dois bancos da igreja, com a cabeça apoiada em travesseiro, trazia uma denúncia adicional. Colado na sua barriga um papel indicava que os padres Severino e Amaro eram os responsáveis por aquela situação. Não há registro oficial de que tenham sido ouvidos pela polícia.
A CARTA
Uma sobrinha do padre morto fez duras acusações aos companheiros de batina citados.
A missa de corpo presente, celebrada ontem em São Caetano, onde ainda residem os parentes mais próximos do falecido, teve tanta gente que a igreja matriz não comportou. A cerimônia foi realizada do lado de fora, no alto das escadarias. De lá, a sobrinha confessou que o tio tinha lhe entregue a carta no final de dezembro, com orientação expressa para que fosse encaminhada ao bispo Dom Francisco no dia 31 de janeiro. Nesse dia, o padre Geraldo celebrou sua última missa. Depois, pediu ao sacristão para fechar a igreja e deixar a porta da torre aberta, ordem que não foi obedecida. Ao lado do corpo estavam uma bolsa contendo uma corda, o que sugere uma possível opção pelo enforcamento. Também foram encontrados no lixeiro do recinto uma garrafa de champagne quebrada e dois recipientes que supostamente continham veneno.
CONDUTA
No seu discurso em tom sereno porém firme e seguro, em São Caetano, a sobrinha garantiu que não tinha lido o documento, apesar de autorizada pelo tio. Apenas, segundo disse, tirou cópias que deveriam ser dirigidas a cerca de 30 pessoas de Surubim. Assegurou ainda que os dois sacerdotes, Severino e Amaro, apontados como contumazes molestadores e agressores pelo morto na sua carta, teriam sua conduta espiritual julgada por Deus. Mas os seus atos como pessoas teriam que ser punidos nesta terra e para tal a família iria adotar os procedimentos jurídicos cabíveis.
Em Surubim, tomada pela emoção, a representante da família não conseguiu falar.
SUPOSIÇÕES
Antes mesmo do início da missa, circulavam rumores de que o bispo teria conversado com a moça, tentando convencê-la a baixar o tom contra os padres acusados. Pelo sim, pelo não, a fala não aconteceu.
COMOÇÃO
A chegada do corpo em Surubim provocou uma enorme comoção. Centenas de coroas de flores foram enviadas pelos paroquianos. Todos os atos foram acompanhados por uma multidão emocionada.
AUTÓPSIA
Até o fechamento desta edição, a polícia Pernambucana ainda não tinha divulgado o laudo oficial da autópsia, realizada ontem no Instituto de Medicina Legal, no Recife.
RIVALIDADES E DIVERGÊNCIAS
A carta-testamento, de quatro páginas, dirigida ao padre Severino Correia da Silva e à comunidade, relata rivalidades, divergências, agressões leves, discriminação, mágoas. Um conjunto de motivos isoladamente sem maior gravidade. Na verdade, um mosaico pouco edificante. Porém insuficiente para conduzir o padre Geraldo a um desfecho trágico e totalmente inesperado.
QUEM ERA
O padre Geraldo de Oliveira, de 77 anos, estava aposentado mas ainda fazia celebrações e um reconhecido trabalho social. Era religioso há cinco décadas, comemoradas no último dia 2 de janeiro. Há 27 anos ele morava em Surubim. Antes, foi pároco nas cidades de Agrestina e São Caetano, em Pernambuco. Também foi professor de Filosofia da extinta faculdade Fafica, em Caruaru.
Uma das marcas da sua atuação era o trabalho social. Ele construiu 78 casas em Surubim e outras 20 em Nazaré da Mata para famílias carentes. Realizava também, de forma permanente, campanhas para doação de cestas básicas, colchões e roupas. Nestas ações filantrópicas, contava com a colaboração de amigos que residem na Alemanha, país que visitava regularmente.
Devoto de Padre Cícero, criou a Missa dos Romeiros em Surubim e na cidade vizinha de João Alfredo.
ESCLARECIMENTOS
Depois da perícia, muitas perguntas deverão ser respondidas. Foi mesmo envenenamento ? (o povo fala no uso do popular chumbinho, veneno para ratos). Quem foi responsável pela administração da substância? Onde foi adquirida e por quem? O padre Geraldo tinha notórios problemas de visão além de grande dificuldade para o uso de equipamentos eletrônicos. Quem digitou e imprimiu a carta? Ele mesmo? Ou contou com a ajuda de um terceiro? A sobrinha garante que recebeu a carta já digitada, para tirar cópias e remeter. Como não leu, não desconfiou das intenções do tio.
Alguém praticou ou ajudou na consumação do ato?
Mistérios a serem esclarecidos com a ação cautelosa e criteriosa da polícia.
Por: Fernando Guerra (Correio do Agreste), Maluma Marques (Terra da gente) e Equipe O Poder / Foto: Fan Page - Paróquia São Sebastião
Postado por Sérgio Ramos/Radialista e Blogueiro- 04/02/2022
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