Pastor é indiciado por assédio a fiéis dentro de igreja na Zona Norte

Da Redação, com Diário de Pernambuco:
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Um pastor de uma Igreja Batista da Zona Norte do Recife foi indiciado, nesta sexta-feira (28), sob a suspeita de ter cometido crimes sexuais contra diversas fiéis. De acordo com a Polícia Civil, os assédios aconteciam dentro da igreja, no gabinete pastoral. Até a publicação desta reportagem, oito mulheres já tinham relatado às autoridades situações de abuso por parte do religioso. 

O homem não prestou depoimento, alegando “problemas psicológicos”, mas foi indiciado diante da farta prova testemunhal obtida pela Polícia. “Inicialmente, a gente recebeu em janeiro um grupo de sete mulheres. Posteriormente, uma oitava vítima mandou um e-mail para a Ouvidoria do Estado de Pernambuco, narrando que também foi alvo dele”, explica a delegada Bruna Falcão.

Apesar das oito queixas, somente quatro inquéritos foram abertos. Três casos já estavam prescritos por causa do tempo em que aconteceram (1996, 2006 e 2008) e um foi relatado por e-mail, por uma vítima que mora fora do Brasil. Segundo a delegada Bruna, os quatro inquéritos são referentes a assédios ocorridos entre 2018 e 2019. 

As vítimas não se conheciam nem tinham qualquer relação de amizade entre si. O assédio do pastor era a única coisa em comum. E pior: como vinha de um religioso, muitas não acreditavam que tinham passado por uma situação abusiva. “Nos atendimentos no gabinete pastoral, ele relacionava todos os problemas que aquelas mulheres relatavam à sexualidade, sugerindo práticas sexuais como forma de terapia. Era sempre o mesmo modo de proceder”, discorre a delegada.

“É um homem prestigiado dentro da comunidade evangélica. Muitas duvidavam de si mesmas. Até que uma delas falou com o marido o que aconteceu. Ela foi alertada e procurou o conselho de líderes da igreja para dizer que iria deixar de frequentar a congregação pelo ocorrido. O assunto começou a ser comentado, outras mulheres foram se reconhecendo como vítimas e, nisso, se formou um cordão de mulheres em busca de ajuda”, acrescenta Bruna Falcão. 

Em todos os quatro inquéritos, o pastor foi indiciado foi assédio sexual. Mas em cada um deles é mencionado outras práticas criminosas, como violação sexual mediante fraude, difamação, estupro, violação de segredo profissional e injúria racial. “Em uma das situações (indício de estupro), o investigado usou da força física para tentar obter relações sexuais. Ele iniciou tocando o corpo da vítima com força, chegou a consumar alguns toques (íntimos), mas ela o repeliu”, prossegue. 


O pastor foi intimado para depor em 13 de fevereiro. Mas a advogada dele apresentou atestados médicos, que afirmam que ele tem um “quadro depressivo grave”. Assim, um depoimento antes de uma nova consulta com o psiquiatra poderia prejudicar sua condição. A incapacidade foi exemplificada em dois afastamentos: da profissão de psicólogo, que ele não presta mais atendimentos, e da atividade na igreja - esta revogada através de uma carta de próprio punho.

“Não há elementos que nos levem a duvidar da veracidade desses atestados, que dizem que a condição psiquiátrica dele é de depressão severa, que ele está fazendo uso de medicamentos e não tem condições de exercer suas atividades normalmente. Os afastamentos começaram em dezembro do ano passado”, revela Bruna.

Entretanto, os quatro inquéritos foram concluídos com acusação ao pastor. “A materialidade foi constituída por depoimentos. Todos os inquéritos tiveram farta prova testemunhal e estão bem instruídos”, conclui a policial.

A advogada que representa o pastor, Aline Coutinho, foi até a delegacia de Santo Amaro na manhã desta sexta. Mas saiu sem falar com a imprensa. 

Em nota, a Convenção Batista de Pernambuco afirma que “intimou o pastor a esclarecer os fatos, tendo ele solicitado afastamento e exoneração da direção da referida igreja, já devidamente homologada pela sua assembleia geral” e que está prestando “toda a assistência possível às pessoas que foram envolvidas, conforme os relatos recebidos”. 

“A Convenção Batista de Pernambuco defende a orientação bíblica da prática sexual apenas dentro do relacionamento conjugal e não compactua, de maneira alguma, com os atos ora aludidos, contra qualquer que seja. Esperamos que as denúncias sejam devidamente apuradas, respeitado o direito de defesa do acusado, e, no caso da comprovação das acusações, definidas as consequentes punições”, pontua a nota.

Por Sérgio Ramos /Radialista e Blogueiro -29/02/2020

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