Da FOLHAPRESS:
Reprodução/Facebook
Escolhido
por Jair Bolsonaro (PSL) para assumir o Ministério da Educação, Ricardo Vélez
Rodríguez afirmou em sua primeira carta como futuro ministro que a sociedade
brasileira é conservadora e que vai preservar os valores morais e da família em
sua gestão.
"Pretendo colocar a gestão da Educação e
a elaboração de normas no contexto da preservação de valores caros à sociedade
brasileira, que, na sua essência, é conservadora e avessa a experiências que
pretendem passar por cima de valores tradicionais ligados à preservação da
família e da moral humanista", afirmou Vélez em texto divulgado nesta
sexta-feira (23), um dia após ter sido anunciado pelo presidente eleito.
Vélez nasceu em Bogotá, na Colômbia, em 1943.
Naturalizou-se brasileiro em 1997. É formado em filosofia pela Universidade
Pontifícia Javeriana e em teologia pelo Seminário Conciliar de Bogotá.
Professor associado da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), é autor de
livros como "A Grande Mentira - Lula e o Patrimonialismo Petista".
Na carta, Vélez adotou tom elogioso a
Bolsonaro, dizendo que ele foi o único a captar o sentimento do brasileiro após
os protestos de 2013. Segundo ele, a polarização na política se deu devido à
"instrumentalização ideológica da educação em aras de um socialismo
vácuo".
O texto, escrito em tom de manifesto, defende
bandeiras comuns com Bolsonaro, como a Escola sem Partido. "A preservação
de um pano de fundo de respeito à pessoa humana é fundamental. Não à
discriminação de qualquer tipo. Não à instrumentalização da educação com
finalidade político-partidária. Sim a uma educação que olha para as pessoas,
preservando os seus valores e a sua liberdade", disse.
O futuro
ministro defende a descentralização da política e da educação, repetindo um dos
lemas de Bolsonaro: "menos Brasília e mais Brasil".
"O
sistema educacional deve olhar mais para as pessoas ali onde elas residem: nos
municípios. O Estado brasileiro, desde Getúlio Vargas, formatou um modelo
educacional rígido que enquadrava todos os cidadãos, olhando-os de cima para
baixo, deixando em segundo plano a perspectiva individual e as diferenças
regionais", escreveu.
No texto,
Vélez defendeu ainda a "dignidade" e a valorização dos professores e
da educação básica e fundamental. "Assistimos a uma desvalorização da
figura dos professores, notadamente no ensino fundamental e médio. Ora, essa
situação negativa deve ser revertida mediante uma política educacional que olhe
para as pessoas", afirmou.
O governo
de transição ainda não definiu o tamanho da pasta que será comandada por Vélez.
Está ainda em estudo a unificação de Educação com Cultura e Esportes. Outro
ponto em análise é a gestão de Ensino Superior, que pode ficar aos cuidados do
Ministério de Ciência e Tecnologia, a cargo do astronauta Marcos Pontes.
O anúncio
de Vélez foi feito na noite de quinta-feira (22), após crise gerada com a
bancada evangélica na véspera. O nome do educador Mozart Ramos, diretor do
Instituto Ayrton Senna, para o MEC, desagradou os deputados, que o consideram
"esquerdista".
Além de
ser nome que agrada os filhos políticos de Bolsonaro, Vélez tem o apoio do
escritor Olavo de Carvalho.
Membros da
bancada evangélica da Câmara disseram estar satisfeitos pela nomeação de Vélez.
"Nós estamos contempladíssimos com a escolha", afirmou à Folha o
deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), um dos aliados próximos de Bolsonaro.
A opinião
é ratificada pelo presidente da frente parlamentar evangélica, deputado
Takayama (PSC-PR).
"Se
fosse para dar uma nota de zero a cem para o Bolsonaro, daríamos cem",
disse.
Em
postagens nas redes sociais e em seu blog "Rocinante", criado em
2009, Vélez é entusiasta do Escola sem Partido e defensor de um Enem (Exame
Nacional do Ensino Médio) menos doutrinador.
O nome do
blog dele é uma homenagem ao cavalo de Dom Quixote, personagem do livro de
Miguel Cervantes que, segundo o futuro ministro, foi alvo "de
espancamentos, infortúnios e glórias".
Vélez
opina sobre tudo. É crítico ferrenho de Lula e do PT; é contrário à
participação de médicos cubanos no programa Mais Médicos; já foi simpático à
monarquia; diz que a ditadura militar é fato a ser comemorado; é apoiador do
liberalismo; mas já foi de esquerda. "Do radicalismo marxista não me resta
nem um cabelo", escreveu em seu blog.
"Todas as escolas deveriam ter os Conselhos de
Ética, que zelassem pela reta educação moral dos alunos. Não se trata de
comitês de moralismo, nem de juntas de censura. Trata-se de institucionalizar a
reflexão sobre matérias éticas e acerca da forma em que cada escola está
correspondendo a essa exigência", defendeu Vélez no blog em setembro deste
ano.
Por Sérgio Ramos/Radialista e Blogueiro – 24/11/2018