Pastor batista chamou de
intoleráveis as falas preconceituosas e os discursos de ódio de Bolsonaro.
Pastor Ed René Kivitz. Reprodução do Facebook. |
Do Ativismo Protestante.
Em um
culto no último domingo (30) na Igreja Batista da Água Branca (Ibab), em São
Paulo, o pastor Ed René Kivitz chamou de intoleráveis as falas preconceituosas
e os discursos de ódio de Bolsonaro, candidato de extrema-direita à presidência
da República pelo PSL. Ed abordou as falas por ocasião das eleições que se
aproximam e o envolvimento de várias igrejas e líderes no pleito, inclusive
apoiando Bolsonaro.
O pastor lembrou do adúltero do rei Davi com Bate-Seba, mulher
de Urias, um dos homens do exército dele. Após engravidá-la, tentar fazer com
que que Urias acreditasse que o filho dele mesmo e não conseguir, Davi manda
seu súdito fiel ao campo de batalha para ser morto. E assim aconteceu, como
está relatado no livro de 2 Samuel, capítulo 11. Após isso, Davi tomou
Bate-Seba para si, como esposa.
Repreendido por um profeta, Davi estava tão alienado que não
conseguiu reconhecer seus próprios erros. Dessa angústia, nasceu o Salmo 51,
uma oração do rei Davi a Deus, pedindo desculpas por seus erros e crimes, até um
assassinato, pois suas mãos estavam sujas de sangue.
Ed René lembrou que o Davi era um homem “segundo o coração de
Deus”, íntimo de Deus, piedoso, mas mesmo assim foi capaz de cometer tais
atrocidades.
“Eu me pergunto por que um homem de Deus, um homem íntimo de
Deus, piedoso, faz um mal nessas proporções?”
Segundo ele, a resposta está em forças monstruosas que todos
temos dentro de nós:
“A palavra de Deus me informa que existem em nós forças, que nos
vêm dos nossos antepassados. Forças atávias, que, se não forem mantidas sobre
controle, despertam monstros. E nos levam a fazer coisas que só podem ser
explicadas porque fomos arrebatados do nosso juízo, da nossa razoabilidade, do
nosso senso.”
Isso explicaria também nosso contexto político atual e a
aceitação de discursos extremistas, como os de Bolsonaro:
“Os monstros tomaram conta de nós. É isso que a Bíblia chama de
tentação, quando a nossa carne assume o controle. Essas forças e esses monstros
estão dentro de nós, mas também estão nas nossas sociedades. E os fenômenos
sociais fazem com que esses monstros apareçam. E de repente, uma sociedade se
torna monstruosa. Estou com muito medo de que isso esteja acontecendo no nosso
país.
Sim, estou me referindo ao nosso processo eleitoral, às nossas
eleições de domingo e aos monstros que estão soltos na nossa sociedade.”
Ed diz que essas forças estão dentro das igrejas também:
“A violência, a intolerância, os extremismos, os monstros de
todos os lados, que são acordados, eles despertam. E esses monstros tomam conta
da sociedade, e inclusive da igreja.
Nos já vimos a igreja, por exemplo, comprometida com a Ku Klux
Klan. Diáconos e pastores batistas membros de uma seita racista e do movimento
de segregação racial nos Estados Unidos. Nós já vimos o Apartheid na África do
Sul, e a igreja estava presente sustentando o regime racista. A igreja
protestante na Alemanha sustentou o nazismo.”
Por fim, o pastor aborda as falas de Bolsonaro:
“Eu fico chocado com as expressões do Jair Bolsonaro dizendo que
‘o problema da ditadura é que torturou mas não matou, poderia ter matado mais’,
‘não estupraria você porque não merece’. Eu fico chocado com a brincadeira
‘vamos metralhar os petralhas’, com uma criancinha fazendo sinal de revólver.
Fico chocado quando Jair Bolsonaro, no legítimo exercício da sua
cidadania, é esfaqueado em praça pública.
Os monstros estão soltos. E estão soltos também entre nós.
O discurso racista, homofóbico, classista, machista, está
presente dentro das nossas comunidades.”
Ed afirma que qualquer homem é capaz de qualquer coisa, assim
como Davi foi capaz de assassinar um súdito seu, para ter sua esposa.
“A santidade não é um comportamento, não é prática rotineira de
atividade religiosa. A santidade é um tipo de coração, é uma postura diante de
Deus, um coração quebrantado, que Deus não despreza. É colocar nossos monstros
diante de Deus e pedir misericórdia, que apague nossas transgressões, para que
não nos abandone.”
Assista à pregação na íntegra abaixo.
Vídeo – Santidade como quebrantamento
Por Sérgio Ramos/Radialista e Blogueiro – 05/10/2018