Um take de “302” (foto: divulgação/Jorge Bispo)
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Canal Brasil está exibindo à meia-noite dos sábados o programa “302”, no qual
um grupo de mulheres comuns – leia-se nada de “celebridades” – posa nua em
frente a uma parede branca, em que se destaca apenas uma pequena tomada (veja o
primeiro episódio aqui).
Ali não há apelo sexual ou um cunho erótico óbvio, mas o sentido do termo
“desnudar-se” nunca foi tão apropriado.
“302” é o desdobramento para a TV do projeto Apartamento 302, do fotógrafo Jorge Bispo.
Começou como a maioria das coisas interessantes começam – de forma
despretensiosa. A proposta de Bispo era abrir sua casa para que conhecidas e
amigas mostrassem sua nudez de forma despojada, sem retoques, sem apelos
baratos. Bispo publicava as fotos na página do projeto, que foi ganhando fãs e
adeptas. O Apartamento 302 cresceu e, com dinheiro arrecadado pelo sistema de
financiamento coletivo, virou livro.
Cresceu também em outro sentido. De momento despojado, em que as
mulheres mostravam sua beleza de forma natural, o projeto passou a ser um canal
de catarse e reflexão sobre feminilidade e corpo feminino. E, além da
intimidade física, passou a mostrar a intimidade psicológica.
É exatamente o que se vê no programa, no qual as mulheres, além de
posar, contam suas histórias e razões para topar o desafio. Ao longo de quase
15 minutos esse grupo heterogêneo revela segredos (alguns tristes), dúvidas e
inseguranças. Ao final, o espectador se sente um pouco íntimo de cada uma
delas.
Conheci o Bispo quando trabalhava na revista “Playboy”. Sujeito
tranquilo, fotógrafo de primeira e profissional ponta firme. Subiu dois morros
para fazer um ensaio com Valesca Popozuda. Fez outros tantos ensaios para a
revista, sempre na maior correção. Seu olhar enxerga a beleza antes de nos
tocarmos dela, como um craque que antecipa a jogada antes que o zagueiro a
perceba.
“302” me faz pensar em como a questão da nudez feminina é complexa
no Brasil. Erotizada nas revistas e na TV, abundante no carnaval, ela – a nudez
– é vista com preconceito quando uma moça se entrega ao singelo ato de praticar
topless em Ipanema. Como se pertencêssemos a algum país de costumes muçulmanos,
vira infração, escândalo, objeto de hostilidade. É incompreensível, na verdade.
Os 15 minutos de “302” mostram o nu feminino como ele deveria ser
enxergado: despojado, real, simples e, mesmo assim, belo. Como a nudez de uma
namorada que, nua, vai buscar água na cozinha depois do amor. Infelizmente, há
quem não veja amor na nudez real. Só posso lamentar.
Fonte: Tela Plena/br.tv.yahoo.com
Postado por Sérgio Ramos/Repórter
e Blogueiro – 29/09/2014
E-mail: felizsramosdecarvalho@yahoo.com.br
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